Inícios sempre foram difíceis para mim. Decidir, traçar objetivos, pensar, pensar, pensar, desejar...tudo bem, mas iniciar... A segurança nunca era a necessária, o conhecimento nunca era o suficiente, a coragem debandava na hora. Em vez de vivendo e aprendendo, bem que eu poderia dizer vivendo e iniciando. Com o tempo as coisas parecem mais fáceis, talvez por ser um caminho tantas vezes trilhado.
Até então nunca havia me preocupado com os finais. Em quando terminar. Para mim as coisas terminavam porque se esgotavam em si mesmas. Desistir? outra coisa que não era problema. Desistia e fim. Ou não.
Sei lá se o tempo, ou o preço que se paga por cada momento aqui, ou a sabedoria que se instala quando conseguimos ver o quanto as coisas são efêmeras, frágeis, nos torna tão resistentes, tão teimosamente agarrados às coisas que se quer, que se ama, que se idealiza.
Fica tão difícil desistir... Mesmo quando se vê o piano sendo erguido, bem acima da cabeça, com aquela cordinha esfiapando... Você permanece, não desiste do seu lugar, e mesmo o piano caindo pensa: posso segurar...
Pensando nisso, me ocorreu o tanto de orgulho que tem em não desistir. E vi que o que me cabia agora era viver e desistir. Aprender a desistir. Desistir no sentido de abrir mão, de deixar ir. Deixar ir aquilo que não cabe em sua vida. Deixar ir aquilo que você ama, mas não pode ter. Deixar ir aquilo que você pensou que era seu. Sem derrotas, sem mágoas. Considerando antes o momento de sua vida e o momento da vida do outro. Adiando o que talvez não seja desta vida e tendo paciência. Paciência para saber que se algo teve tanto espaço em sua vida, mesmo que em breve tempo, é porque é, foi ou será importante um dia, num outro tempo, que ainda será ou que já foi.

Hoje é 25 de fevereiro de 2000, são 21:53 de sexta-feira, e faz uma meia hora que consegui desistir, conscientemente, com a tristeza meio incoerente de um dever cumprido. Não foi uma bela "desistida", talvez porque seja a minha primeira desistida lúcida, mas eu aprendo, se não desistir...