setembro 09, 2007
  Ela reinava soberana entre o arquivo principal e o guichê. Seus domínios foram sempre muito bem demarcados desde a longínqua data onde ela fora designada para a minúscula escrivaninha entre a mesinha do café e a porta. Seus domínios, agora, eram a sala toda.

Aquele posto inicial não se chamava mais escrivaninha, a mesinha do café sumira para o que eles agora chamavam de área de convívio. A escrava que ela fora um dia se transmutara em duas estagiárias que falavam demais e pareciam não saber da existência de nada que não estivesse no computador. Porém, até o dia de hoje, havia a segurança do guichê, as caras ansiosas dos requerentes e o seu poder de vida e de morte sobre os certificados, os atestados e as segundas chamadas.

Aí, um dos vice- diretores não sei de quê (a raça havia se proliferado nos últimos anos; muito cacique para pouco índio, diria o seu pai se vivo fosse) entra na sala cercado pela turma dos serviços, com seus analógicos martelos, metros e serras e, analogicamente, o seu querido guichê sumiu.

(...wearing the face that she keeps in a jar by the door - cantarolava o seu cérebro sempre que se aproximava da grande janela)

- Ampliamos a rede, modernizaremos o atendimento aos alunos! - diz o vice-gordinho desinteressado, como se modernizar alguma coisa não fosse um paradoxo. - Agora é tudo online.... - repetia ele para as duas patetas que batiam as mãozinhas felizes. E a coisa foi por aí. O guri espinhento e escabelado da informática instalou mais dois terminais, não respondendo, como sempre, nenhuma pergunta objetiva.

(Ah, look at all the lonely people ...)

As patetas que só conhecem os verbos clicar, deletar, baixar, no âmbito dos procedimentos de trabalho, ficaram perguntando (em vão) quando seria o treinamento. Ela que tivera uma formação à antiga, analógica, no tempo em que alguns professores ainda chamavam o "quadro negro" de "pedra", tinha desenvolvido um bom raciocínio lógico ( a peso de muitos zeros em matemática, incansávelmente recuperados) e, assim, estranhamente, não se assustava com as manhas dos computadores e programas. Mas se ressentia da linearidade dos procedimentos, da insensibilidade dos fluxogramas e ah..., da falta do guichê.

O estranho é que tudo parecia igual no campus: os mesmos hippies a se arrastar pelo pátio, com as mesmas roupas. Igual, se não fossem os reluzentes aparelhos nos dentes e os jeans de griffe que já vinham rasgados do shopping (ah o shopping). Igual, se não fosse os indefectíceis fones nos ouvidos e a torrente de obviedades que saia de suas bocas, quando elas se abriam.

( Where do they all belong ?)

Sem o guichê, ninguém notou a sua falta no outro dia. Nem quando o fluxograma do computador da entrada indicou: 3º dia >> tem justificativa? >> não >> descontar e o computador da seção de pessoal registrou na data conveniente o abandono do emprego.

(No one was saved)
 
setembro 08, 2006
  Voltando pra Casa Mais uma vez, voltando pra casa... Noite fria. As luzes da cidade espalham névoa e refletem o azul do frio.
Frio. Gelado como minhas mãos em torno do volante.
Gelado como o vento que , apesar de tudo, invade...

Olho estrelas geladas no fim da rua. Pálidas, metálicas, sombra de brilho revelando meu rosto branco.
Onde está vc?
Como naquela música, que sei la onde ouvi:
Em que estrela vc se escondeu? Em que sonho vc vai voltar?

Por que vc só vem nos sonhos... Invade como o frio, mas aquece. Vem pálido, mas ilumina.
Onde está vc agora?
O rádio do carro canta:

How I wish, how I wish you were here. We're just two lost souls swimming in a fish bowl...

Eu entro na ultima curva, estou chegando...

... year after year. Running over the same old ground.

Deixo a luz prateada de frio, entro no túnel escuro...

What have you found? The same old fears.

Onde está vc agora?

Wish you were here...
Wish you were here....
Wish you were here.....
 
março 28, 2004
  [perguntas]

Definir ausência... Ausência é o que percebemos daquilo que não está presente. É o vazio deixado pelo que já foi ou que nunca veio, mas existe.
A ausência provaria a existência, pois só o que existe pode ausentar-se. Será?
Posso dizer: - A minha alegria existe, mas está ausente.
E será que, em dizendo isso, possa perceber o vazio deixado pela alegria que não está? O fato de algo existir pressupõe um lugar onde possa ou não estar? Ou o fato de existir tal lugar nega a possibilidade de algo ausentar-se?
A percepção da ausência anularia a própria ausência? A ausência não percebida nega a existência?
Pode algo ser ausente de modo relativo? Presente para mim, ausente para o outro? Ou nossas percepções são apenas nossas e algo que eu percebo e o outro não, existe para mim e não existe para ele? Ou só existe se ambos percebem? Existência relativa?
Pode um sentimento atravessar seus dias, tornar-se uma presença quase física e não gerar nem ausência? Não ser perceptível? Não existir de fato?
Ser só uma criação sua.
E , se for só uma criação da sua vontade, pode ser destruído por força desta mesma vontade?
O que determina a ausência? Uma presença anterior? Estando ausente a causa estará ausente o efeito? Ausentando-nos da causa podemos fugir do efeito ? Anular o efeito? Suprimir o efeito?
O que será que dói mais? A ausência não percebida? Ou, com minha ausência, tornar ausente o sentimento em mim?
...
 
fevereiro 18, 2004
  [/server irc.datanet.com.br]

Session Start: Fri Out 02 21:18:09 2001
[21:18] VENTO: (((((((:
[21:18] BRISA: quem é vc? :))
...
...
...

Session Start: Fri Dec 04 17:18:09 2001

[18:44] VENTO: hummmmmm
[18:44] VENTO: onde vc quer ir ?
BRISA: sei la
BRISA: quero ir com vc
[18:44] VENTO: hummm
[18:44] VENTO: escolhe um lugar :)
BRISA: pra se encontrar?
BRISA: escolhe tu
[18:45] VENTO: to sem ideias
BRISA: puxa...
[18:45] VENTO: to esperando uma sua
BRISA: podiamos marcar em qualquer lugar
BRISA: e depois resolver
[18:46] VENTO: sim
BRISA: boteco?
BRISA: parcao?
[18:46] VENTO: hum...
[18:46] VENTO: parcao num
[18:46] VENTO: muita luz ((:
BRISA: hehehe

...

Session Start: Sat Dec 05 00:43:14 2001

[0:43] VENTO: chegueiiii
BRISA: :))))))))))))
BRISA: noosaaaaaaaaaaaa
BRISA: saudade
BRISA: saudade
[0:43] VENTO: to tomando sunday
[0:43] VENTO: vim comendo !!!!
[0:43] VENTO: hummmm :)))))
BRISA: humnmmmmmm
BRISA: eu fiz um sanduba :)
BRISA: e cerveja
BRISA: vo dormir bebinha
[0:44] VENTO: hummmm
[0:44] VENTO: heheheheeeee
[0:44] VENTO: sei
[0:44] * ELE viajando horrores
BRISA: ja encomendei o sonho desta noite
* EU tbbbbbbbbbbb
[0:44] VENTO: hhhahhahaaa
[0:44] * VENTO perninha bamba
BRISA: hummmmmmm
BRISA: assim q é bom
BRISA: eu tava com tudo bambo
[0:45] VENTO: hum rum
BRISA: ate o cerebro
[0:45] VENTO: heheeh
[0:49] * VENTO ta doidinho pra continuar
BRISA: nossa
BRISA: eu tb
[0:49] * VENTO se pergunta sera que vc esta ?
BRISA: to to to
BRISA: naum deu pra notar?
[0:50] VENTO: hum hum
BRISA: :))))))
* BRISA taradinha
[0:50] VENTO: aquela escada
[0:50] VENTO: não esqueço aquela escada
BRISA: nossa
BRISA: adorei olhar pra ti ali
BRISA: pros teus olhos
* BRISA louca naquela escada
[0:56] VENTO: ahhhhhhhhhhhh
[0:56] VENTO: eu que tava
[0:56] VENTO: não notou ?
* BRISA quase assinando cheque em branco, dizendo sim pro padre, etc
[0:56] VENTO: hhhahhaaahhaahaa :):):)
[0:57] VENTO: queria estar ai
BRISA: e so por azar naum ta
[0:57] VENTO: queria te ver
[0:58] VENTO: to com teu cheiro em mim
BRISA: e eu queria isso
[0:58] VENTO: quero te ver
[0:58] VENTO: quero te ver
[0:58] VENTO: quero te ver
BRISA: eu tb
BRISA: eu tb
[0:59] VENTO: quando?
BRISA: quando?
...
 
janeiro 25, 2004
 
[o que eu não sei]


Sim.
Eu sei a velocidade da luz, eu posso calcular distâncias, eu aprendi trigonometria, mas...
O que eu queria mesmo saber é quantos graus,
quantos minutos,
quantos segundos
tem o ângulo que forma o nosso olhar quando olhamos a mesma estrela, nestas noites de verão.
 
  [do meu jeito]

Eu te invento à toda hora
Te coloco e te desloco
Eu te faço como eu quero,
Silencioso ou falante,
fraco, forte, vago ou errante...
Preciso e intenso como um punhal
Eu te crio à cada instante.
E já não vejo teu rosto,
mas tua voz me segura
muito mais que teus punhos.
Tu me prendes , mas eu dito tuas falas
O que tu levas na noite
Eu acho em mim quando amanhece.
E, assim,
eu te recrio na medida da minha vontade,
no ritmo dos meus desejos,
do tamanho da minha loucura.
 
janeiro 18, 2004
  [na segunda camada]

Ideologia é aquilo que habita a segunda camada. Está no que se tenta liberar. Dois milímetros abaixo da superfície, entrelaçada no verniz estético.
 
janeiro 04, 2004
  [Se]

Se eu quisesse um pouco mais
Tudo seria sugado, revirado,
Regurgitado, amorfo
Como algo que se mastigou e cuspiu
Sem nada que corte
Sem nada que fira
Mas, pra quê?
 
  [o duplo]


Escolher entre as luzes e o mar
Pode ser que seja fácil
ou não. Deixar-se ficar na escuridão, na passagem
basta abandonar-se à corrente das horas, dos minutos, dos segundos...
Porém, a luz chama, clama, atrai e trai.
entabular o ritmo dos que se pensam vivos,
E o mar ancora sem prender,
linkar a seqüência de vazios, os múltiplos nadas,
melhor deixar-se embalar
abrir todos os círculos,
esquecer a possibilidade da tempestade,
eliminar as arestas.
Navegar
Viajar
 
o vento do sul abre trilhas no tempo

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